Ao som de vários instrumentos tradicionais, Júlio Silva
fez, durante 15 anos, incursões a uma cultura que diz ser relegado á condição
do mundo. Os instrumentos tradicionais, que a fazem vibrar, são dos artistas,
ecoam das cabanas, quintais e aldeias dos artistas, que para o musico-escritor
tem um lugar por debaixo da lua e do sol que ilumina o nosso meio. É neste
caminho que o musico-escritor produziu este livro, “Instrumentos Musicais Tradicionais
de Moçambique”, lançada na semana finda em Maputo.
Como garimpeiro, Júlio Silva partiu a busca de uma
realidade que sabia que existia, porque evidente. A sua pesquisa foi, de ponto
de vista de premissa, fácil, já que o musico-escritor, é educado num meio
artístico-cultural, indignava-se quase sempre“ porque é que Moçambique não divulga
a sua história, a sua fora cultural?”
“Há muitos instrumentos que encontrei que só tem a ver
com o mundo espiritual aqui internamente, e é ingressado que muitos desses
instrumentos são muito usados no Brasil, a “Cuica” por exemplo, é muito usual
no carnaval, mas aqui encontramos em Maputo, na zona de Bela Vista, e só em
casa de curandeiro, e é um instrumento sagrado e escondido. E como isso não é
visível, as pessoas não sabem que isso é nosso”, conta o autor que para
produzir este livro conversou, em varias sessões de entrevistas, com pessoas de
todo o país.
“Fiz intensas pesquisas e conversei muito com pessoas de
diferentes localidades, o que me possibilitou conhecer muito do que não sabia e
nem imaginava. Eles foram mais que fontes para eu escrever, são também co - autores
do livro” justifica Júlio Silva, que diz, “foi a partir de muitos velhotes que
descobre excessiva realidade escondida” atribui um grande reconhecimento a
todos esses fontes.
Segundo o Silva, essa co - atribuição a essas pessoas é
mais do que um reconhecimento a fontes para se interessante, tal é a quantidade
de histórias que contaram. “É um reconhecimento de que temos muito mais autores
de histórias do nosso país. As vezes nem sempre são os que escrevem, mas são
grandes autores. É o caso dos parceiros que encontrei durante o percurso”.
“Instrumentos Musicais Tradicionais de Moçambique” é uma
espécie de uma denúncia que o Júlio Silva faz em relação ao certo esquecimento
e não vontade politica de ir a busca daquilo que é a verdadeira história
cultural de um povo. Em espécie de exigência de um reconhecimento para as
tradições africanas, sobre tudo moçambicano, crenças, sonoridades, e formas de
fazer a arte, o autor precisa o valor quase perdido do património moçambicano,
“ não se manifesta nenhuma vontade politica de recuperar aquilo que é nosso. E depois,
com a escravatura, muita coisa foi parar em outros cantos, europas e nas
américas, e aqueles povos la reinventaram muitos desses instrumentos, tornaram
a as mais coloridas e comercializam, e parece que nos já não temos como dizer
que isso é nosso. As gerações de agora, por sinal, pensam que aquilo é outrem,
mas não, a nossa história não aprofunda essas matérias”, desabafa.
Júlio afirma que há risco de muitos instrumentos
desaparecerem, “muitas das minhas fontes só explicavam oralmente ou desenhavam
o que tocavam, daí, eu ia a procura e encontrava aquilo já aos pedaços, e os filhos
desses tocadores não deram continuidade, muitos fugiram por causa da guerra e
da fome, não deram progressão as tradições”, explicou.
Em relação a visibilidade dos instrumentos tradicionais
moçambicanos na diáspora, o autor afirma que
há necessidade de se gravar os
nossos festivais, apresentar mais a fabricação dos nossos instrumentos e isso
passar a nível internacional, ai as pessoas vão ter a noção da proveniência
desses instrumentos e como saíram daqui, “Porque não é apenas relatar a
fabricação, temos também de ilustrar como foi a viagem desses mesmos
instrumentos para diversos cantos do mundo. O exemplo de milhares de escravos
que foram para o Brasil e o Berimbau la, é o nosso Chitende, e existem milhares
de Quilombos de origem moçambicana. O que se vê depois é a falta um intercâmbio,
não há um trabalho do fundo que faz-se com essa descendência moçambicana”,
conclui.
“Instrumentos Musicais Tradicionais de Moçambique” foi
chancelado pela Editora Paulinas, estando quase a esgotar no mercado. Pela
resposta que a obra teve por parte dos interessados na matéria, o autor e a
editora prometem esforçar-se para que haja mais edições.
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