“É preciso ter coragem para se estar bem na
música”
• Wazimbo regressa com "Raízes"
Começou a sua
carreira aos 16 anos numa banda local denominado Silverstar, fazendo música pop
internacional. Em 1962 ganha um contrato para Angola, naquilo que seria a sua
primeira internacionalização. Hoje, Wazimbo é uma das mais notáveis vozes
moçambicanas com créditos internacionais. Na semana passada, apresentou o seu
segundo trabalho discográfico, a solo, intitulado "Raízes", para o
agrado do público que há muito já vinha pedido mais um disco do seu ídolo.
Momentos depois do
lançamento do disco, o jornal Sábado trocou dois dedos de conversa com este
músico que muito bem representa a cultura moçambicana, dentro e fora do país.
Procuramos saber em
primeiro lugar como anda a sua saúde musical, aos que nos respondeu que
"vai tudo bem. Os convites para colaborações não param de aparecer e estes
vem de forma natural. Sinto que as pessoas que me procuram têm um certo
respeito pela minha carreira, acho que é um reconhecimento do trabalho que
venho desenvolvendo ao longo destes anos", considerou Wazimbo que nos últimos
tempos participa em vários festivais nacionais e internacionais, sendo um dos
mais recentes no Brasil.
Para Wazimo, "é
possível viver de musica", não obstante admitir que o processo não é tão
normal como em outros países onde no campo de financiamento de artistas existe
e há interesse de promotores em patrocinar manifestações artístico-culturais.
Internamente, “os
músicos são poucos acarinhados. É preciso ter coragem, persistência e
auto-estima para estar bem na música", disse.
A título de exemplo,
Wazimbo nos contou que para a produção e lançamento do seu disco enfrentou
vários obstáculos, como qualquer outro artista. "Nao foi fácil gravar este
álbum, foi preciso muita coragem e determinação. Tal trabalho acabou por ser
possivel graças ao apoio das TDM e de outras instituições que respeitaram a
minha carreira", acrescentou.
Até porque a
ascensão da carreira do Wazimbo começou mesmo por incentivos de promotores de
eventos que o convidaram a acompanhar alguns artistas, em Angola, integrado na
banda Dinossauros e a tocar também obras da sua autoria, isso em 1972 e 1973.
Desde então, o
artista vem se evidenciando actuando ao lado de nomes como Hortêncio Langa,
Morreira Chonguiça, Jimmy Djudju, Mingas, José Mucavel. Também colaborou nos
tributos "Fanny Fumo e Alexandre Langa", Orquestra Marrabenta Star
(banda com qual gravou dois álbuns), Banda RM para citar alguns.
Wazimbo diz-s fã
incondicional de músicos como Magide Mussa , Gabar Mabote (estes que as
circunstâncias da vida não lhes permite estarem no activo), Hortêncio Langa e
Jimmy Djudju, que são, para ele, alguns dos artista que melhor representam o
talento dos moçambicanos.
Para o vocalista, o
que falta para que os músicos moçambicanos tenham uma projecção maior que os
dos seus irmãos na disporá é necessário que sejam acarinhados, tanto pelos
patrocinadores como pelo público.
"Raízes" par os fãs
Depois de 18 anos, o
músico decide partilhar com a sua vasta legião de fãs, moçambicanos e do resto
do mundo, as experiências adqueridas das suas vivências artísticas,
colaborações e resultados de pesquisas sobre o leque de ritmos de que o país
dipõem, com destaque para o gênero marrabenta, seu favorito.
"Raízes" é
um álbum que faz incursões pelos ritmos tradicionais africanos, afro-jazz e
marrabenta que o público da cidade de Maputo teve a oportunidade experimentar.
O disco em alusão
comporta cerca de 12 faixas e conta com a participação de outras estrelas da
música moçambicana, como Hortêncio Langa, Otis, Muzila e Texito Langa.
Podem se ouvir neste
disco músicas como "Rio Seco", "Vidas positivas",
"Nyandayeyo", "Vaka Machava" e "Samora Machel",
este último que é um choro de indignação sobre a morte trágica do primeiro
presidente de Moçambique independente, cujas causa e autores ainda continuam
por desvendar.
No show de
apresentação deste trabalho Wazimbo (voz), fez-se acompanhar pelos
instrumentistas Fadir (guitarra solo), Nando (baixo), Sima (bateria), Valy
(treclado), Tony Paco (precursão), Lemam Pinto (sopros), Sizaquiel e Sandra
(coros).
Direitos de autor são relevantes
Wazimbo está
registado na Sociedade Italiana de Autores, Sociedade Portuguesa de Autores
(SPA), Sociedade de Autores Sul-africana (SAMBRO) e na Sociedade de Autores
Alemã (PIRANHA).
Este músico é
igualmente membro da Sociedade Moçambicana de Autores (SOMAS). Com a sua larga
experiência, Wazimbo acredita que a “SOMAS podia fazer muito mais”, tanto no
combate à pirataria, assim como no controlo
das músicas tocadas nas rádios, poís, salienta, "não se justifica que seja apenas a Rádio Moçambique e a Televisão de
Moçambique a pagarem os direitos de autor”.